7 de nov. de 2009

O Amor É Fogo!


Quando fico nu diante do espelho, não sei se rio ou se choro. Olho para a minha barriga grande, para a minha bunda murcha, para os meus cabelos ralos, para a minha cara cansada, e me lembro de que dizem que nós somos a imagem e semelhança de Deus. Se isso é verdade, está explicado o porquê dele jamais dar as caras por aqui, só pode ser por vergonha. Se quando me olho no espelho eu chego a duvidar da minha própria existência, quem daria crédito a um Deus que se parecesse comigo?!

Eu disse para a minha esposa que eu estava me achando um homem derrotado na vida. Ela, com a sutileza de uma vaca descendo correndo uma escadaria, me disse: “É, você é sim.” Tudo bem, sinceridade é um bom atributo no ser humano, mas uma mentirinha só, e ainda por piedade, não a levaria ao inferno!!! É a vida não é um mar de rosas... Aliás, nunca entendi essa frase, o que há de bom em estar num mar de rosas? Pô, rosas têm espinhos, deve doer pra cacete!!!

E por falar em infer... quer dizer, e por falar em casamento, o meu nunca foi muito bom. Só me casei porque a minha esposa era o meu tipo ideal de mulher. Qual o meu tipo ideal? Qualquer uma que me queira. Bem, ao menos o casamento me fez ver uma coisa, que a morte não é tão ruim assim. Não sei o que dizer sobre esse negócio de "Até que a morte os separe." O que eu sei é que às vezes o meu casamento me faz querer morrer.

Mas para não parecer que eu só reclamo da vida, devo dizer que ela tem coisas boas sim, coisas como... como... sei lá, não me lembro de nada no momento, mas deve ter.

30 de out. de 2009

Perdedor...

Eu não sou um homem violento. Jamais gostei de brigas, talvez seja porque em todas as brigas em que me meti eu acabei apanhando. Apenas uma vez eu quase bati em alguém, mas a merda do anão jogou sujo, deu um pulo e cabeceou o meu saco!!! O golpe foi tão bem aplicado que automaticamente caí no chão. O pior é que o anão ainda me chutou a cara quando eu estava caído. Se não fosse o pessoal do bar, ele tinha me arrebentado inteiro. Ora, bater num homem caído é uma covardia!

Bem, como eu ia dizendo, não sou um homem violento, mas uma vez eu quis matar um sujeito. A discussão foi por causa de um jogo de futebol que estava passando na televisão do bar. Não sei direito como, mas o que começou com a troca de piadinhas sobre os dois times, descambou para piadas pessoais, e depois disso começaram as ofensas. Só não entramos em luta corporal porque os meus amigos nos separaram. Um deles, enquanto me segurava, me disse: “Porra Praxedes, deixa disso, já apanhou de um anão e vai querer bater num armário desses?!” Isso que ele me disse me deixou muito chateado, principalmente porque era verdade. Humilhado, resolvi ir para casa.

Porém, quando cheguei em casa, aquela situação toda ficou martelando na minha cabeça. Eu me senti envergonhado pelo modo como tudo aquilo se deu. Fiquei imaginando que todos deveriam estar rindo de mim lá no bar. Ora, eu acho que jamais se deve humilhar alguém, ainda mais quando esse alguém sou eu!

Comecei a tomar uma cachaça, depois outra, e enquanto bebia cheguei a uma conclusão. Como eu não tinha nada a perder, eu ia matar aquele cara. Pronto, simples assim. Apanhei um revolver 22 que eu tinha recebido como parte do pagamento por um bico que eu fiz, coloquei na cinta e fui para o bar. A minha vida não era grande coisa mesmo, para mim ficar preso ou solto dava na mesma, afinal, eu não tinha nada a perder.

Como o bar não ficava muito longe da minha casa, poucos minutos depois eu já estava em pé na sua porta. Decidido a lavar a minha honra com o sangue daquele cara, meti a mão na cintura para pegar a arma. Nessa hora eu desisti, mas não pense que foi por covardia. Desisti porque descobri que eu, que não tinha nada a perder, no caminho até o bar havia perdido o revolver.

26 de out. de 2009

Um dia...



Resolvi comprar uma jaqueta de couro, uma Harley Davidson e fugir de casa. Sei lá, me deu uma vontade de conhecer o mundo, rodar livre pelas estradas, viver sem compromissos e coisas assim. Ah, eu queria ser um cavaleiro andante, montado no meu possante cavalo de duas rodas, matando dragões e salvando lindas donzelas indefesas.

Ora, um dia a gente precisa realizar os sonhos, mesmo que sejam sonhos juvenis vividos na cabeça de um homem de meia-idade. Um homem velho também tem direito a sorrir, mesmo que durante a noite o seu sorriso fique guardado dentro de um copo com água, em cima do criado mudo. Estou velho mas não estou morto, isso graças a três pontes de safena. Tudo bem, às vezes eu tenho problemas de ereção, mas e daí, quem não tem problemas nessa vida?!

Bem, como eu já disse, resolvi comprar uma jaqueta de couro, uma Harley Davidson e fugir de casa. O problema é com o dinheiro que eu tinha, o máximo que consegui foi uma 125 cc usada, bem usada, e uma jaqueta de couro sintético, que só com muita imaginação e boa vontade, poderia ser comparada ao couro legítimo.

Mesmo assim, cheguei a tentar a fuga. Vesti a jaqueta, que além de muito feia, tinha mangas tão curtas que terminavam na metade do meu antebraço, e subi na moto mas ela não funcionou. Durante uns 15 minutos eu tentei, mas quando o meu joelho começou a doer, resolvi desistir. Já operei o joelho uma vez e não quero passar por aquilo novamente.


Foi nessa hora que eu comecei a pensar melhor sobre o que eu estava fazendo. Imaginei como deveria ser a minha aparência naquela hora, um homem idoso, usando aquela jaqueta ridícula, montado naquela moto horrorosa, com uma sacola de plástico cheia de roupas velhas, amarrada com elástico no bagageiro da moto... Desisti!!! Coloquei o rabo no meio das pernas e fui para a cozinha ver se a minha esposa estava preparando o jantar. Estava, fígado, odeio fígado!